Princípio/forma ativa - Bula - Epinefrina
A Epinefrina é contraindicada em pacientes que apresentam hipersensibilidade conhecida a qualquer componente da fórmula.
A Epinefrina é normalmente utilizada em situações de emergência. Nesses casos, qualquer contraindicação é relativa.
Não se deve administrar Epinefrina em pacientes que estão sobre tratamento com beta-bloqueadores em virtude do potencial elevado de desenvolvimento de hipertensão severa e hemorragia cerebral.
A Epinefrina, solução injetável, pode ser administrada por via intramuscular, subcutânea ou intravenosa, sendo neste último caso, aplicada de forma lenta e diluída (1 para 10.000 ou 1 para 100.000). A Epinefrina apresenta-se compatível e estável por 24 horas quando diluída em solução de glicose a 5% e solução de cloreto de sódio 0,9%, em temperatura ambiente, entre 15 e 30°C. Proteger da luz.
O uso da Epinefrina no choque anafilático é sugerido na dose de 0,5mL de uma solução de 1 / 1000 (500µg) por via intramuscular, sendo repetida a cada 5 minutos quando necessário.
Para crianças, as doses consideradas para administração dependem da idade e peso. Entretanto, valores de 10µg/kg intramuscular são usualmente prescritos, sem muitos eventos adversos. Recomenda-se a administração de 50µg para crianças com menos de 6 meses de idade; de 120µg para crianças entre 6 meses e 6 anos de idade; de 250µg, para aquelas entre 6 e 12 anos.
Ao se observar o peso da criança, uma dose de 150µg pode ser empregada naquelas entre 15 e 30kg. Já aquelas com mais de 30kg, 300µg apresentam um efeito apreciável e sem muitos danos.
Caso seja feita a administração intravenosa, ressalta-se a importância de que a mesma seja efetuada bem lentamente, a fim de diminuir a possibilidade de vasoespasmos entre outros transtornos cardiovasculares. Nesses casos, para adulto, a dose é de 500µg, e para crianças, de 10µg/kg, dadas através de uma diluição de 1 / 10.000 em uma velocidade de 1mL ou menos por minuto.
Sugere-se que, para adultos, seja realizada uma dose intravenosa de 1mg, inicialmente (10mL de uma solução de 1 / 10.000). Essa dose poderá ser repetida quantas vezes for necessário, respeitando um intervalo mínimo de 2 a 3 minutos durante o processo de ressuscitação cardíaca. Em se tratando de crianças, a dosagem uma vez mais, deverá respeitar o peso, sendo sugerida nessa situação, a injeção de 10µg/Kg endovenosamente. Ao ser iniciada a infusão contínua, em especial em situações críticas, como o choque ou pós-parada cardíaca, deve-se acelerar a infusão (para acima de 20mL/hora) até que surja taquicardia. O aparecimento desse sinal indica que a droga está apresentando efeito. Após isso, deve-se reduzir a infusão para o que foi inicialmente previsto.
Deve-se dar preferência a bomba de seringa para realizar a infusão venosa. Os rolos ou pulsos da bomba de infusão poderão induzir irregularidade na velocidade a qual a Epinefrina é infundida, produzindo instabilidade da mesma.
Em virtude de sua capacidade de provocar broncodilatação, a Epinefrina consiste em um excelente recurso em caso de exacerbação aguda de asma. Nessa situação, ela poderá ser administrada na forma intramuscular ou subcutânea. Não obstante essa possibilidade de uso deve-se ressaltar que os β2 agonistas, como o salbutamol , apresentam propriedades de aliviar o broncoespasmo de uma maneira superior a Epinefrina e com menos efeitos cardiovasculares, comparativamente a esta última. Todavia, quando a Epinefrina for a opção disponível, deverá ser utilizada, no caso de adultos, na dose de 0,3 a 0,5mL de solução aquosa de 1 / 1000 (300 a 500µg), de 4 em 4 horas ou de 6 em 6 horas.
A Epinefrina permite que ocorra uma lenta difusão do anestésico, limitando, portanto, a sua dissipação e, com isso, prolongando seu efeito. Essa utilização, quando bem empregada, apresenta pouca toxicidade. A concentração de Epinefrina empregada com anestésicos locais geralmente é na ordem de 1 / 200.000 (5µg/mL). Entretanto, uma observação importante deve ser feita: a Epinefrina não pode ser empregada na anestesia de dígitos, orelhas, nariz, pênis ou bolsa escrotal, devido ao fato de ter um potencial efeito isquêmico e poder ocasionar necrose tecidual. Para procedimentos dentários, pode-se empregar a diluição de 1 / 80.000 ou superior (12,5µg/mL).
Para a contenção de um processo hemorrágico superficial, a Epinefrina é uma medicação que pode ser empregada. Nessa situação, ela promove a vasoconstrição de arteríolas e capilares que podem estar causando o sangramento. A apresentação aquosa na diluição de 1 / 1000 é a normalmente utilizada embebida em algodão ou gaze ou mesmo na forma de spray. No entanto, ela não é capaz de interromper definitivamente o sangramento interno.
Situações como ansiedade , tremores, cefaleia , palpitação, taquicardia (muitas vezes seguida de dor anginosa), arritmias (extra-sístoles, taquicardia ventricular ou supraventricular), hipersalivação, hiperglicemia , fraqueza, zumbido , sudorese excessiva, dispneia e frio nas extremidades corporais podem ocorrer, mesmo em baixas doses.
A Epinefrina não atravessa a barreira hemato-encefálica. Contudo, seus efeitos centrais podem ser observados como consequência aos efeitos periféricos. Altas doses administradas (superdosagem) podem provocar arritmias cardíacas graves, um súbito aumento da pressão arterial, sendo inclusive capaz de produzir hemorragia cerebral, edema pulmonar , isquemia de extremidade, esplâncnica e renal. Esses eventos adversos também podem ser observados mesmo em doses habitualmente utilizadas.
A capacidade vasoconstritora da Epinefrina faz com que ela seja um potente causador de isquemia e, em consequência, de gangrena , especialmente se administrada em extremidades como dígitos, nariz, orelha e pênis. O extravasamento da Epinefrina infundida pode provocar necrose tecidual. A aplicação de injeção de fentolamina pode ser útil na reversão da vasoconstrição provocada pela injeção inadvertida de Epinefrina nas extremidades. Após manobras de reanimação, pode-se observar a presença de taquicardia e hipertensão grave, especialmente quando foram utilizadas mega-doses (de 0,01mg/kg a 0,1mg/kg) da solução não diluída. O emprego da Epinefrina nessa dosagem não é mais empregado atualmente, a não ser em casos refratários, nos casos associados ao choque séptico grave, choque anafilático avançado e quando a pressão intra-arterial (PIA) estiver sendo monitorada durante a parada (CTI, anestesia) e está em níveis inferiores a 20 - 30mmHg.
Em caso de eventosadversos, notifique ao Sistema de Notificações em Vigilância Sanitária – NOTIVISA, disponível em http://www.anvisa.gov.br/hotsite/notivisa/index.htm, ou para a Vigilância Sanitária Estadual ou Municipal.
A Epinefrina apresenta atuação em receptores α e β adrenérgicos de forma direta, consequentemente, podem existir interações com outros medicamentos que também agem sobre esses receptores.
Ressalva importante deve ser dada em pacientes que estão em uso de beta-bloqueadores. A administração de Epinefrina, nesses casos, poderá ocasionar uma hipertensão severa e até mesmo hemorragia cerebral, visto que as ações desse hormônio sobre os receptores α1-adrenérgicos não são inibidas.
Não se deve administrar a Epinefrina em conjunto, na mesma via, com bicarbonato, em virtude da instabilidade da droga em soluções alcalinas.
É comumente feita a associação de anestésicos locais com a Epinefrina para maior potencialização anestésica. Contudo, caso tenha ocorrido o uso prévio de cocaína, a Epinefrina não deverá ser administrada, em decorrência da maior probabilidade de ocorrer arritmias cardíacas.
Não é recomendada durante o trabalho de parto, em vista da possibilidade de retardar a segunda fase.
Em pacientes portadores de asma brônquica de longa duração, o uso da Epinefrina deve ser feito com cautela, visto que nesses pacientes, o enfisema pulmonar subjacente pode proporcionar o surgimento de uma cardiopatia degenerativa. Nessa situação, o uso de Epinefrina pode favorecer o surgimento de arritmias cardíacas muitas vezes fatais.
Pacientes que possuem angina devem receber, em caso de extrema necessidade, a Epinefrina com muita precaução. O uso dessa substância nesses indivíduos pode provocar piora da dor anginosa.
A Epinefrina subcutânea em solução 1: 1000 é efetiva na reversão da crise asmática aguda grave, segundo evidenciaram Linet all. Os investigadores compararam os resultados obtidos com o uso parenteral da Epinefrina ou a administração de terbutalina pela nebulização no desfecho da crise asmática que atinge crianças. O grupo de crianças que recebeu Epinefrina 0,01mL/Kg na apresentação 1:1000 cursou com melhores valores da saturação de oxigênio (p < 0,001) e de volume expiratório forçado de primeiro segundo (p = 0,027) em relação aos que recebera terbutalina.
Kitoet all realizaram um estudo com oitenta pacientes, estado físico ASA I ou ASA II, que iriam realizar cirurgia urológica ou ginecológica. Os pacientes foram distribuídos aleatoriamente em quatro grupos de acordo com a mistura das drogas injetadas. Todos os grupos receberam 60mg de lidocaína hiperbárica em 7,5% de solução de dextrose com as seguintes associações: grupo A (controle) - 0,6mL de solução isotônica de cloreto de sódio; grupo B - Epinefrina (1: l000) 0,2mL (0,2mg) + solução isotônica de cloreto de sódio 0,4mL; grupo C - Epinefrina 0,4mL (0,4mg) + solução isotônica de cloreto de sódio 0,2mL e grupo D - Epinefrina 0,6mL (0,6mg). A adição de Epinefrina (Grupos B, C, e D) prolongou o tempo para a regressão do nível analgésico para com os do grupo A (P < 0,05), com maior prolongamento observado no grupo D. O uso do fármaco na solução 1: 1000 em associação com o anestésico lidocaína resulta em maior duração do efeito analgésico, sendo este tempo dependente diretamente da dose de Epinefrina empregada. Assim, a Epinefrina possibilita a postergação da ação analgésica dos anestésicos aplicados nos segmentos lombossacro e torácico da coluna vertebral.
Referências bibliográficas
Kito K, Kato H, Shibata M, Adachi T, Nakao S, Mori K. The effect of varied doses of epinephrine on duration of lidocaine spinal anesthesia in the thoracic an lumbosacral dermatomes. AnesthAnalg. 1998 May; 86 (5):1018 - 22.
Lin YZ, Hsieh KH, Chang LF, Chu CY. Terbutaline nebulization and epinephrine injection in treating acute asthmatic children. PediatrAllergyImmunol. 1996 May; 7 (2): 95 - 9.
A ação da Epinefrina assim como as demais substâncias simpatomiméticas, correlaciona-se principalmente ao receptor ao qual se interage. Após a ocorrência dessa interação, há uma alteração da permeabilidade da membrana celular, desencadeando uma série de reações intracelulares, na dependência do tipo de receptor e tecido envolvido com o local onde se deu a ligação.
Especificamente, a Epinefrina interage-se com os receptores α e β, assim como com alguns de seus subtipos. Esses receptores localizam-se nas terminações nervosas pré-sinápticas e em algumas pós-sinápticas. Essas terminações podem sem observadas perifericamente, no tecido vascular e adiposo, assim como no coração, pulmões, plaquetas, leucócitos, rins, entre outros.
Existem dois subtipos de receptores α-adrenérgicos (α1 e α2, sendo esses subdividos em outros três subtipos) e três subtipos de receptores β-adrenérgicos (β1, β2 e β3). Ao serem ativados, observam-se os seguintes principais eventos:
Por via subcutânea, a Epinefrina apresenta uma absorção lenta, em decorrência da vasoconstrição local. Contudo, pela via muscular, sua absorção se dá de forma mais rápida, tendo em vista a maior vascularização.
A Epinefrina atravessa pouco a barreira hematoencefálica, pois possui baixa lipossolubilidade, apresentando, portanto, poucos efeitos no encéfalo. Não obstante, a Epinefrina é capaz de atravessar a barreira placentária e afetar a circulação fetal.
A Epinefrina é rapidamente metabolizada e inativada por processos que incluem difusão e degradação enzimática, tanto no fígado , quanto nos tecidos em que atua nos sítios de sua utilização neuronal.
É degradada pelas enzimas catecol-O-metiltransferase (COMT) e monoamino oxidase (MAO), presentes em grande quantidade no fígado. De forma geral, a Epinefrina é convertida em metanefrina, através de uma reação de metilação promovida pela COMT e, posteriormente, sofre um processo de oxidação, desempenhado pela MAO, gerando o ácido 3-metoxi-4-hidroxifenilglicol (ácido vanilmandélico – VMA) ou então é convertido, também por essa enzima, em ácido 3,4-dihidroximandélico. Este último ácido pode ser novamente metilado pela COMT e transformado, mais uma vez, em 3-metoxi-4-hidroxifenilglicol.
Os produtos da conversão da Epinefrina são eliminados principalmente pela urina em indivíduos normais. Entretanto, na presença de situações patológicas como o feocromocitoma (um tumor da medula adrenal produtos de catecolaminas), pode-se observar uma elevada concentração desses metabólitos, como também de Epinefrina e norepinefrina.
O tempo de meia-vida da Epinefrina é extremamente curto (cerca de 1 minuto).
Fonte: Bula do Profissional do Medicamento Adren.